Nascida na pequena cidade de Itajuípe, próxima a Itabuna, na Bahia, Joana Angélica Guimarães da Luz é a primeira reitora negra a assumir uma universidade federal no Brasil. À frente da Universidade Federal do Sul da Bahia desde junho de 2018, a história de Joana foi construída com muito esforço e tudo começa com o amor da mãe pela leitura.
Filha primogênita de uma família com seis filhos, Joana passou a primeira infância em uma fazenda de cacau. O pai trabalhava na roça e a mãe cuidava das crianças. Mesmo com pouco estudo, os pais incentivavam os filhos a seguirem firme na escola, um caminho para um futuro melhor.
“Minha mãe gostava de ler e foi a nossa maior incentivadora”, conta. “Ela tinha uma sede pelo saber e, ao mesmo tempo, era muito rígida com os filhos no colégio, tinha consciência que esse era o caminho para termos uma vida melhor do que a dela.”
A preocupação com que os filhos tivessem acesso a uma boa formação era tão grande que a família deixou Itajuípe e se mudou para Salvador, onde havia mais escolas e melhores oportunidades para as crianças se desenvolverem. “Todos os seis filhos estudaram e seguiram uma carreira. Eu cursei o ensino médio em uma escola técnica federal e só aí que comecei a trabalhar para ajudar em casa.”
Mas não foi fácil para a adolescente lidar com a sua autoestima. “Naquela época, as escolas públicas eram frequentadas pelos filhos da classe média, tinha vergonha de levar os amigos em casa, eu era pobre, negra, achava que o meu cabelo crespo era feio, mas com o tempo, percebi que eu sou muito mais do que isso”, diz.
Cursar uma faculdade era o caminho natural para a família. Joana ingressou na Universidade Federal da Bahia, no curso de geologia, e logo começou a pesquisar. “Quando comecei a estudar na graduação, percebi minha capacidade intelectual e isso não tem nada a ver com a classe social ou cor da pele.” Durante a graduação, a jovem estudante se casou e continuou o curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Joana sentiu o racismo no sul do país
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“Por conta da colonização, o número de pessoas negras é menor no Sul e morar em Porto Alegre, sendo mulher negra e nordestina, me fez perceber o racismo, muitas vezes velado e embalado como brincadeiras”, lembra. Joana seguiu em frente e foi realizar o sonho de viajar para fora do Brasil.
De volta a Salvador, fez o mestrado na UFBA e seguiu ao lado do marido para os Estados Unidos. Ele tinha uma bolsa para cursar o doutorado na Universidade Cornell, Joana não. Mesmo com uma filha pequena, ela conseguiu uma bolsa como assistente de ensino, trabalhava atendendo alunos e assim concluiu seu doutorado.
No Brasil, seguiu a carreira acadêmica até alcançar o posto de primeira reitora negra em uma universidade federal. “É um misto de alegria e responsabilidade”, diz. “A representatividade é muito importante, sou um exemplo para outras mulheres negras, para elas saberem que podem chegar lá também.”