A foto (acima) da jogadora de futebol australiano Tayla Harris, de 21 anos, dando um chute em um campeonato local viralizou na internet. O motivo, porém, não foi sua performance em campo, mas a exposição de seu corpo. Mais uma vez as mulheres tendo visibilidade pelos motivos errados...
Harris, que também é lutadora de boxe, possui uma estrutura física invejável, o que o pequeno uniforme do time deixa bem claro para quem quiser conferir. E é por aí que vou iniciar esta análise.
Por que os uniformes esportivos costumam expor tanto o corpo da mulher? Será que nós, mulheres, sempre temos que mostrar mais pele do que os homens para chamar atenção? Não vou falar aqui do “direito” da mulher expor seu corpo porque não vejo o assunto por esse ângulo. Aliás, minha visão é bem simples: eu não deixo minhas coisas de valor largadas no quintal de casa. O que eu tenho de mais valioso não fica exposto nas janelas, mas sim, muito bem guardado. Acho que já deu para entender.
Lembro-me que, em um determinado ano, tive0mos uma briga no colégio porque nos mandaram comprar uniformes de voleibol que se resumiam a shorts curtíssimos que estavam mais para “hot pants”. Nenhuma de nós queria usar algo tão pequeno e que iria nos expor tanto. Ainda mais porque sabíamos que os movimentos que o esporte exige poderiam nos colocar em situações constrangedoras na frente dos garotos do colégio. Eles, por sua vez, queriam que a direção mantivesse o uniforme e estavam interessadíssimos em “assistir nossos jogos”.
Brigamos pelo direito de não sermos forçadas a expor nossos corpos e ganhamos. Nos sentimos orgulhosas por podermos vestir o que quiséssemos e por termos tido uma vitória que, para nós, foi de extrema importância. Me parece estranho que, hoje em dia, as mulheres lutem exatamente pelo contrário: pelo direito de mostrarem o que quiserem enquanto todo mundo deve fingir que não está vendo nada.
Os comentários de cunho sexual sobre a foto de Tayla Harris são nojentos, grosseiros e só demonstram como homens desse tipo podem ser asquerosos. Porém, eles são tão óbvios quanto ser assaltada por andar com um celular caro na mão em um bairro violento. Não deveria ser assim, mas é.
O número de acessos à pornografia no mundo só cresce, enquanto a faixa etária de quem acessa só diminui e quem produz conteúdo está batendo recordes. A plataforma de vídeos eróticos Pornhub divulgou um relatório em 2017 revelando seu número de visitas diárias: 81 milhões. Isso representa quase 30 bilhões de visitas por ano ou mais de 56 mil por minuto.
No Brasil, uma pesquisa feita em 2018 aponta que 22 milhões de pessoas consomem pornografia assumidamente, sendo 76% homens. E a pergunta que fica é: como a imagem da mulher é retratada nesse tipo de material? Enquanto os homens buscam cada vez mais por produções que degradam a imagem da mulher, as mulheres aumentam a autoexposição de seus corpos esperando que a reação masculina seja nula. A conta não fecha.
Tayla Harris deveria ser reconhecida por seus feitos como atleta, mas não é isso que estamos vendo. Se não fosse por essa foto, talvez nunca ouvíssemos seu nome. E por que você acha que isso aconteceu? Porque vivemos em uma sociedade que valoriza a mulher? Não, claro que não! E se a sociedade não valoriza, cabe a nós, mulheres, nos valorizarmos.
Patricia Lages
É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo, palestrante e conferencista do evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard. Apresenta quadros de economia na TV Gazeta e Record TV e é facilitadora da RME para o programa mundial WomenWill – Cresça com o Google.
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